[1] por Marina Frangioia

E agora onde fica a dança?

Hoje é um dia especial para a comunidade da dança; celebramos esta arte e a sua linguagem: universal, promotora de ideais como a liberdade de expressão e a igualdade de direitos, independentemente das barreiras e das condições sejam elas políticas, culturais, étnicas ou até éticas. As efemérides têm esse poder, o de nos fazer recordar datas importantes, de pensarmos nelas. Hoje como nos anos anteriores essa comemoração acontece de igual forma, mas distantes paradoxalmente (porque a dança é proximidade, física também) uns dos outros.

Como fica a situação de centenas de profissionais que vivem (e respiram) da dança no contexto pandémico que tudo corrói? Quais as estratégias que esta classe está a adoptar para se adaptar a toda uma nova realidade que explodiu nos nossos pés? Vamos todos passar a dar aulas on-line, vamos todos ter que reorganizar e readaptar os conteúdos?

E como gerimos as incertezas, o nosso futuro? Como gerir tudo isto numa classe que, à semelhança de outras classes artísticas, se pauta por vínculos de natureza ora incerta ora de manifesta precariedade?

Onde fica a dança numa sociedade que não tem a mínima ideia das particularidades desta fatia do tecido cultural que em Portugal está há demasiado tempo no fim da cadeia?

Não tenho respostas, mas tenho muitas questões.

Os Profissionais da Dança são maratonistas habituados ao sofrimento, muitas vezes vítimas de lugares comuns bolorentos, alimentam-se e são simultaneamente estimulados por um motor chamado amor, continuam a produzir, e é só por isso que ainda é possivel observar o que muitos de nós ainda estão por aqui a espalhar: beleza e amor. A dança acontece quando alguém se encontra num determinado espaço e durante um determinado tempo para aprender, criar ou devolver junto do público o resultado de um projecto, uma proposta, um trabalho, um espectáculo. Daqui para a frente todas as peças de dança serão vistas através de plataformas digitais? Onde fica a relação entre professor e aluno?

Onde fica o calor e o pulsar dos corpos? A tecnologia vai-nos engolir? Acredito que não, porque ao longo dos tempos a dança sempre se adaptou e reinventou em função de novas realidades com o brilho, a energia, a persistência e a cadência que nela cabem e coexistem.

Esperemos para ver.

Fotografias de Helena Silva

[1] bailarina, coreógrafa e professora de dança

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