O Imenso Comércio do Nada

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O Imenso Comércio do Nada

[1] por Soraia Simões de Andrade
Nenhuma exterioridade é sagrada...


  Le temps, c'est de l'éternité pliée (Cocteau)

    Fica tudo dentro de nós, começa e acaba connosco, não interessa como, ou quanto tempo, se caminha por um empedrado, melhor é crescer como árvore frondosa, elevando-se como elevada é a coragem – das mais sérias faculdades humanas, como é a memória, a ausência de pudor, o não nos levarmos a sério, que é a coisa mais séria, versava João Pedro Grabato Dias.

    A coragem não tem ou releva interesse pela imprudência, mas atiça déspotas, e o carácter inconsequente dos seus actos, aquilo a que Ernst Jünger chamou 'temeridade'. Ter coragem é, desde logo, fazer questão de pintar com a tinta mais robusta linhas divisórias, tornadas visíveis e distantes, daqueles que amam o estardalhaço como forma de vida social ou cultural por não terem nada mais para nos oferecer além de si, às pázadas.

    Ora, nenhuma das artes deveria servir para resolver psicoses, vinganças, problemas pessoais, compensações. As artes fazem-se com talento. Num chão que oscila nenhuma pessoa corajosa ambiciona, como poderão através deste pedaço intuir, ficar com as meias sem pé.

Walter Benjamin disse-nos ser a memória a mais épica das nossas faculdades; por precisar, tal como a inteligência, de ser alimentada, e por, talvez mais importante, só existir por existir asnice; como o bem não existe se não existir o mal, o magro se não existir o gordo, e assim por diante.

E porque é que convoco a ausência de pudor como faculdade valiosa dos humanos, além das outras duas? Porque é que são as três tão essenciais?

Por vários motivos, darei conta de dois.

Em primeiro, porque, como afirmava Marguerite Duras, num livro fundamental durante a minha adolescência – L'Amant –, a memória dos homens nunca ocorre nesta iluminação iluminadora que acompanha a das mulheres; em segundo, porque todas as paixões e afeições já foram sobejamente interpretadas, diria Debord, há, portanto, de encontrar outras.

    Sabemos como a pudicícia é ainda maior sobre as mulheres e incide com mais vigor sobre classes ou sujeitos arredados de uma capitulação com tiques soberanos. Há uma característica que Benjamin Franklin atribuía aos franceses, a de não urinarem sozinhos; esta contempla a maioria dos homens no ocidente, independentemente da sua nacionalidade; será tão mais ruidosa aos olhos quanto estes tencionarem a sua inscrição na ordem reguladora – envergonhada, covarde –, das hierarquias, quanto mais quiserem ser poder; enquanto isso dissimulam, em público, os laços inúmeros que os fazem permanecer ou ascender na hierarquia.

É, aliás, como Jünger também nos dizia, o 'tirano ardiloso' quem se contenta com a reverência; os servos estão habituados a ver as vítimas 'beijar a sua poeira'. Esta elasticidade de combinação entre o dever, a ambição pelo poder convencional, a conveniência, tem lugar de modo quase invisível: guardam-se silêncios, honras e ganhos simbólicos onde tudo principia: usando as figuras retóricas, mesmo que gastas, mais próximas da ‘esquerda-melhor-pensante’, ainda que os seus arremessos predilectos sejam semelhantes aos da direita mais conservadora e, por vezes, radical.

    E nós podemos pensar que se fecharmos esta página, se fingirmos que não a lemos, um dia levamos-lhe o gatilho.

O arremesso predilecto das convenções de direita é a paixão da violência, até aquela que tem vindo a absorver um argumentário próximo da esquerda entendeu como podia medrar melhor por esquecimento das raízes. Mesmo a violência interpessoal tem o poder de destruir primeiro a mulher para a seguir destruir a sociedade. A figura do nobre faliu nas artes, e ainda ninguém deu por isso, nem os próprios. Camaradas, queremos servir de escada para o ego e a evangelização?

    Voltando à pudicícia – terão percebido já que a considero excludente: já viram alguma mulher urinar em público, chamar as amigas, gabar-se disso olhando para os genitais?

O pudor, como afirmou Bologue a propósito da nudez física, é um sentimento complexo; se o repensarmos, aplica-se às mais diversas formas de vergonha e cada época privilegia um ou outro aspecto do pudor. O pudor da origem – mais que social, cultural –, das conformidades electivas dissonantes das bem-melhor-aceites, da orientação sexual, do género, são já modos das pretensas hegemonias se apresentarem, embora os mundos instragamável,  facebookizável e dos média  cujo modelo de negócio permanece centrado na polémica –  desconheçam todos os fios que prendem as vidas, sendo, por isso, matéria descartada em redes vazias, não em comunidades.

O medo do confronto inesperado com aquelas pessoas a quem não demos a devida atenção, ou, o receio maior, que alguém acabe com o circo da objectividade pura reergue-se devagarinho, sempre em nome de uma moralidade pouco opaca. As nossas mãos até podem segurar a cabeça, mas a cabeça prendê-las.

    A História já nos mostrou que toda a nossa política nasceu com o assassinato da coluna vertebral; nasceu para regulamentar a ordem e evitar o surgimento de outras tiranias. Mas, se nem as pregas de desagrado nos dedos mais experientes são capazes já de nos fazer sorrir, há que lembrar que as costas de uma mulher não são para curvar. Afinal, que olhar ficará de fora, quando os vidros se partirem e deixarmos de ter janelas?

 

    Vive-se nas pontas de um espectáculo onde só se vêem corpos reformados antes do tempo, e, excluindo a quem apraz morder as folhas da lírica especulativa nutrindo-se de um reino estrangeiro familiar, onde só as mais cientes, na berma da representação teatral cómica, abandonarão a tempo essa morada.

Só se estivermos atentas viraremos a página, as vozes há muito que se tornaram transparentes, nem interessa se no zero do som se num ritmo catatónico, só importa que estão para lá da grelha das palavras. Interessa que compreendemos as nossas parceiras, os nossos camaradas, noutros sentidos. De Deleuze a Debord, de Orwell a J. Levinson, de J. Kristeva a Paul B. Preciado, todos, à sua maneira, falaram das paisagens, entendo-as enquanto moradas temporárias,  pistas abandonadas, e não por causa dos incêndios ou das inundações.

    Se há uma verdade, a de que vivemos num salvádego artístico face à INcultura é a mais clarividente. A concordância entre discurso-acontecimentos-objectos concretos, é inacabada, discutível, ultrapassável, não cumpre inteiramente a libertação de uma ideia eurocéptica cuja principal preocupação é colocar entraves, problemas circulares, continuísmos; e não descontinuidades, rupturas, atirar no terreno outras sementes.

Revolucionário hoje seria uma sociedade secreta de autoras anónimas que conseguisse rebentar o comércio do nada; ou a rebeldia de ser contra o trabalho que nos limpar os bolsos e o espírito, contra a propriedade, contra a industrialização e a capitalização simbólica.

    Quando a utopia é resgatada pelo poder sem chão memorial, quando ela é domesticada e se lhe bota um laçarote, mesmo que este seja ainda um poder flácido, e talvez nunca deixe de o ser embora aspire outros supedâneos, paga uma factura pesadíssima. As pessoas entram numa capela oclusiva, deixam de ter iniciativas por si, o poder passa a organizar-lhes tudo; mal a pessoa burile uma ideiazinha mais utópica, qualquer coisa que liberte, tem-no à perna, a fazer a folha, a silenciar e a passar à frente, a organizar tudo de modo mui relutante de forma a levar o seu séquito de fiéis indistinguíveis, em síntese o rebanho, a crer num manifesto urdido e amanhado pela rama; que, na realidade, para as mais observadoras se desfaz num sopro porque era já débil antes de se manifestar.

    Abrir bem os olhos como quem abre a cabeça ao mundo desconhecido tornou-se imperativo, mais do que sub-interpretações do desconhecido.

A finalidade do poder flácido nunca foi nem será derrotar estruturas, mas sim habitá-las, não necessariamente para reconstruir uma mais justa, antes para reiterar a confiança na que existe evidenciando-se. Nestas condições, o futuro será um simulacro, a emancipação uma figura de retórica balofa; a sua condição natural, assim como daquela que a ofender, será flutuar de costas a apreciar a paisagem enquanto as restantes pessoas morrem, ou já nem flutuam, escondem a cabeça dentro de água para esconder o que pensam.

Não foi também Debord quem nos disse que uma das principais contradições da burguesia na sua fase de liquidação era respeitar as criações artísticas opondo-se logo a seguir às mesmas para depois delas usufruir?

Não é sempre para o poder flácido a preocupação com a quotidianidade, os costumes, o comezinho onde mergulharam, que conta e não a melhor realização dos humanos? Dividir vedando o que é interdependente não é absolutizar? Para se considerar excelso, não se deveria fugir à profanação da publicação e exibição públicas?

    Nenhuma exterioridade é sagrada e já nem podemos afirmar que o nosso passaporte caducou, apenas que o melhor sítio de Lisboa poderá, cada vez mais, ser o aeroporto...

[1] escritora, investigadora

fragmentos de um ensaio (no prelo)

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O mito da criação como liberdade absoluta

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O mito da criação como liberdade absoluta

[1] por Elagabal Aurelius Keiser

A progressão para a anti-arte escudou-se, numa primeira etapa, na eliminação de regras, critérios, até que todos os preconceitos estéticos ou técnicos fossem anulados. Este caminho foi descrito pelos historiadores como sucessão de libertações fecundas a caminho de amanhãs de gloriosa utopia cultural.

Os modernistas queriam acabar com todos os constrangimentos, mas desconheciam, como nos ensina Goethe, que o constrangimento nunca foi obstáculo para o génio, mas trampolim. A arte levita quando se apoia no obstáculo. Ao sentir esta resistência do ar, o tolo volátil imagina que voará melhor no vácuo acima da atmosfera, mas só encontrará aí o mais estéril dos ambientes.

Toda a arte nasce da linguagem, a sua prática impõe certas restrições análogas à gramática, certos códigos cuja disposição obedece às regras específicas da disciplina em questão.

A liberdade inventiva é exercida e estimulada no âmbito destas regras do jogo. Nietzsche considerava que o génio artístico era a expressão da liberdade mais extrema dentro da lei mais restritiva. O domínio dessa lei é o que confere sentido à própria ideia de transgressão, sem ela não há nada a transgredir.

Ora esse nada a transgredir que torna tudo possível caracteriza a morte na mesmidade, sem transcendência, sem abertura para o desconhecido, no fundo sem ideia de liberdade ou interesse algum, que tão bem conhecemos no fatalismo da Arte Contemporânea (AC). Por isso se tornou ubíqua a noção de que já foi tudo feito, mas esse tudo feito é apenas a inversão de toda a lei, e não a transcendência da lei que se domina.

Visto que este mito da liberdade em relação a qualquer regra se tornou o código mais estéril, na invectiva do superego, só resta ao anartista recuperar as leis artísticas mais extemporâneas e estritas, e adoptá-las de novo, de forma a que possa sair deste mar dos sargaços, e discernir alguma abertura para terra incógnita.

O anartista é tão absolutamente livre que encontra o seu paradigma no paradoxo da liberdade de se limitar. A retórica do multimérdia e da hibridação de disciplinas já não o encanta.

[1] Arista, ensaísta

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Uma vontade de Zeca: canções revolucionárias para o século XXI

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Uma vontade de Zeca: canções revolucionárias para o século XXI

[1] por Luís Carlos S. Branco

Tornou-se lendária a solidariedade de José Afonso. Quando viveu em Setúbal, ele, que vivia com pouco, estava sempre disposto a ajudar quem o procurava. A sua casa, dizem, estava sempre com as portas abertas, não trancadas. Às vezes, aparecia lá alguém para levar um livro ou para comer uma fatia de pão e matar a sede. Ainda no tempo da ditadura, era abordado amiúde para dar uns concertos, em pequenas associações, que não primavam pelas condições ideais para um espetáculo de música. Ele nunca recusava. Por vezes, nesses pequenos recitais, havia pides a pairar, a meter o olho (geralmente um par, como o Dupont e Dupond do Tintin). O público dessa zona, Montijo e arredores, sob o olhar atento dos vigias, pedia-lhe, em coro, para ele cantar as cantigas proibidas, ao que ele acedia sem grandes pruridos. Estas e outras estórias já fazem parte daquilo que, em certa medida, ele se tornou: um mito. E é difícil averiguar a sua veracidade, quando são passadas, assim, de boca em boca. Seja como for, elas refletem aquilo sobre o qual não há dúvidas. A postura humanista, atenta, solidária pela qual ele sempre pugnou. Era um homem bondoso, desapegado de bens materiais. 

O psiquiatra Manuel Louzã Henriques, seu colega de Coimbra e outras andanças, contou-me outros aspetos interessantes acerca do percurso algo sinuoso do cantautor. Falou-me do seu imenso jeito para o futebol (“Era um jogador danado; podia ter sido um profissional”), da sua falta de habilidade com as mãos (“Típico de um certo género de pessoas criativas; cabeça um bocado na lua e inabilidade para as coisas práticas da vida”). E era “um escritor de primeira água, talentosíssimo, podia perfeitamente ter seguido por aí e teria deixado certamente uma obra fantástica, tal como fez na música”. Em relação à questão coimbrã, o ínclito médico dizia: “Aí já não é tanto como dizem… ele não foi o único a aborrecer-se com a tradição do fado de Coimbra; havia antecedentes de monta: o Edmundo Bettencourt, por exemplo, e gente a abrir caminhos paralelos, como o Adriano… era uma coisa um bocado geracional. O Zeca foi, isso sim, a parte mais visível desse movimento de renovação da canção coimbrã. Quando saiu a “A balada de Outono”, aquilo foi um estrondo, mas havia uma série de pequenas explosões para trás e ao lado”.

José Afonso deixou um lastro e uma obra imensa, de uma grande riqueza lírica e estética. No seu espantoso cancioneiro, encontramos também condensada uma certa ideia de Portugal. Um Portugal livre, afastado dos quatrocentos anos de censura. Sim, a censura entrou no nosso país com a Inquisição, em 1536, mas depois continuou com a real mesa censória, e também no tempo da 1.ª República, e teve, claro, o seu triste zénite no estado novo. E seria bom não cairmos na tentação de pensar que, no regime democrático, ela desapareceu por completo, pois isso é falso. Relembremos a proibição dos programas de Herman José, na televisão do estado, ou das canções dos Xutos, interditas em várias rádios (uma delas, relativamente recente, em que se falava de um certo “engenheiro” que levava o país para muito maus lençóis) ou o despedimento do insigne radialista António Sérgio, depois de ter ganho um importante prémio, o que também constitui uma forma de censura. 

Tantas eras longe do livre pensamento, e a expulsar muitos dos melhores de nós para o exílio ou para a fogueira, deixa marcas identitárias e culturais indeléveis que ainda hoje se fazem sentir. Somos um país pouco habituado a pensar sobre si próprio e sobre os seus fantasmas. Temos preferido mandar as coisas para debaixo do tapete, o que é mau, pois elas não desaparecem. O colonialismo e o racismo estão aí, em carne viva, para no-lo lembrarem. 

Houve sempre, no entanto, uma forma quiçá mais perniciosa de censura, mais velada, insidiosa: o silenciamento. Muitas figuras, a quem devemos muito, sofreram-no na pele. Uma delas foi o Capitão Salgueiro Maia. Enquanto outros camaradas de armas progrediram na carreira, ele não. Tiraram-lhe a voz e qualquer espécie de protagonismo. Outra, numa grande parte do Pós 25 de Abril, foi José Afonso. Durante muito tempo, não interessava ouvir o que ele tinha para dizer, pois certamente não abonaria em favor dos vários poderes da época.

No final de 2021, finalmente, lançou-se a sua obra musical nas plataformas digitais e, em simultâneo, houve também a reedição, esmerada e cuidada, de alguns dos seus títulos emblemáticos (Cantares do Andarilho, de 1968; Contos Velhos Rumos Novos, de 1969; e Traz Outro Amigo Também, de 1970), em suporte físico (CD e vinil). Por sua vez, o ministério da cultura iniciou o processo de classificação da sua obra fonográfica.

Em 2 de agosto de 2021, a propósito dos 92 anos do seu nascimento, foi exibido na RTP1 (e em prime time, o que é de salientar) um novo documentário sobre ele, da autoria de Nuno Galopim e Miguel Pimenta, intitulado José Afonso: Traz Outro Amigo Também. O seu ponto de partida é louvável e constitui uma mais valia em relação a outros trabalhos sobre o cantor. Quis-se dar voz ao próprio José Afonso e devolver-lhe algo muito importante: o poder da palavra. E, por isso, é um extraordinário trabalho. Houve certamente um duro escavar nos arquivos da RTP e da rádio, recolhendo as entrevistas e os depoimentos, que o cantor foi concedendo ao longo do tempo. Isso permite-nos seguir a sua evolução e perscrutar a sua mundivisão. Muito atento, antecipou muito daquilo que hoje constitui, por exemplo, o pensamento pós-colonial e a questão da igualdade de género (“Mulher na democracia não é biombo de sala”). Nessas e noutras questões similares, estava nitidamente à frente do seu tempo. Este trabalho documental demonstra bem isso.

O contacto próximo e duro com o autoritarismo – recorde-se o seu tio, que era um ferranho adepto do antigo regime, e o seu pai, juiz – e o ter vivido em muitos sítios díspares do mapa português de então, desde Angola e Moçambique até as montanhas nortenhas e ao calor mediterrânico algarvio, despertaram nele um profundo sentido da dignidade e igualdade de todos os homens e mulheres e uma recusa liminar por qualquer pusilânime forma imposta de poder. 

Salazar, em relação a ele, foi aquilo que sempre também foi noutras questões: um chico esperto. Prendeu-o por pouco tempo (cerca de um mês), mas não lhe perdoou a ousadia de cantar a liberdade. Deu-lhe cabo da carreira de Professor, queimando-o em todos os concursos aos quais ele concorreu. No início, permitiu-lhe apenas, a ele que era da área de Letras, dar aulas de Ciências da Natureza. Passado muito pouco tempo, nem isso lhe foi permitido; foi completamente impedido de dar aulas em Portugal. Então, o cantor viu-se a braços com uma situação económica muito precária. Teve de dar explicações para poder sobreviver. Não interessava às eminências pardas da ditadura um Professor que incentivasse o sentido crítico dos seus alunos. Entretanto, algumas figuras do regime democrático, porventura, não fizeram muito melhor figura em relação a ele. No documentário já referido, para além do gosto de ouvir José Afonso nas suas próprias palavras, ressalta à vista um doloroso hiato, pois há uma série de anos, da década de 80, dos quais parece não ter havido qualquer registo mediático. O documentário dá, assim, um inusitado salto temporal. A última corajosa entrevista dada por ele, onde, para caraterizar os políticos de então, remeteu para a sua canção “Os Eunucos”, ficou na gaveta durante anos. 

Também há pouco tempo, saiu uma outra muito interessante obra, que contempla a carreira toda de José Afonso. Chama-se: As Cantigas do Zeca: Uma Vontade de Música, e é da autoria de Octávio Fonseca. É um trabalho de fundo, que se dedica a analisar a obra do cantor, disco a disco, num tom chão, coloquial, mas com conteúdos ricos e massa cinzenta. Além disso, no final, temos ao dispor uma útil recolha bibliográfica, com várias adendas pertinentes ao texto principal. O arranjo gráfico, com papel de qualidade, e as excelentes ilustrações, da autoria de Pedro Sousa Pereira, complementam-no muito bem. 

Apesar de ser, como digo, um digníssimo trabalho pioneiro, de inquestionável valor, bem escrito e bem pensado, tem uma caraterística que é comum à grande maioria dos indefetíveis admiradores de José Afonso e que deve ser assinalada. Por vezes, falta-lhe um pouco mais de sentido crítico. Nem todos os discos dele, nem todas as canções são geniais. Há que fazer distinções, categorizar, assinalar os pontos fortes e os pontos menos conseguidos.

Em relação ao trabalho de José Afonso há dois lados da barricada. Uns vêem-no como um “comuna” (embora advogasse princípios políticos próximos do marxismo, nunca fez parte do PCP; como ele próprio dizia “eu sou o meu próprio comité central”). Para esses, tudo o que ele fez é horrível, inenarrável, meramente propagandístico. Os outros pecam pelo defeito oposto. Para eles, tudo nele é imaculado, sem passos em falso nem percalços. Ora, creio que, a ele que sempre teve um sentido crítico agudo, preferiria, certamente, outro tipo de abordagem à sua obra.

Chico Buarque, num documentário, agora, disponível na Netflix, recorda a preocupação que teve quando, em plena ditadura brasileira, fez canções de protesto. Por um lado, foi um imperativo de consciência fazê-lo. Por outro, tinha a perfeita noção de que a maioria dessas canções não sobreviveriam ao teste do tempo. Ele afirma que, após a queda da ditadura, elas “ficaram sem chão”. Por sua vez, Bob Dylan, ainda em plena década de 60, afastou-se da canção de protesto, aparecendo com uma guitarra elétrica nas mãos, renegando o passado recente. Nas entrevistas, dizia que não era um cantor de protesto, que tinha havido um engano. E é preciso refletir neste género de questões.

José Afonso, apesar do seu perfecionismo e do rigor que colocava no seu trabalho, não se precaveu como eles. E, se calhar, colocou, muitas vezes, as questões políticas à frente da sua própria obra e carreira musical. Porventura, tê-lo-á feito por solidária generosidade e humanismo, mas, seja como for, isso foi um erro. Como resultado, temos, por um lado, um notabilíssimo acervo de canções que, devido ao uso de metáforas e alegorias de teor fantástico-surrealista, usadas para ludibriar os censores, se libertaram do peso do tempo, não ficando demasiado presas às circunstâncias históricas em que foram criadas. Entre elas: “O avô cavernoso”, “Os Vampiros”, claro, “Era um redondo vocábulo” e até mesmo “A morte saiu à rua”, ou a gritantemente atual “Os meninos nazis”. Por outro lado, outras perderam uma grande parte da sua pertinência pela sua excessiva colagem ao seu tempo histórico e ideológico. É uma pena que canções com a qualidade superlativa de “Cantar Alentejano” ou “Alípio de Freitas” tenham, de certo modo, ficado reféns do contexto particular em que foram criadas.

O facto de o cantor ter sido sempre tão avesso à música anglo-saxónica também merece comentário.  Referia-se a ela como “música imperialista”, o que me parece uma posição um pouco retrógrada. Sobretudo, se a ligarmos com o tempo, no imediato Pós 25 de Abril, em que as forças políticas, então vigentes, não queriam guitarras elétricas em Portugal por causa do seu “imperialismo”. Quem as importasse, pagava impostos do outro mundo por serem consideradas artigos de luxo (e foi neste panorama adverso que vingaram muitos dos artistas do Boom do Rock Português).

Já agora, diga-se que os princípios de dramatização e encenação musical, preconizados por José Mário Branco, se devem também, em menor ou maior grau, à influência dos Beatles de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. Esse disco, em que princípios estéticos similares aos que Zé Mário apregoava foram postos em prática, foi editado em 1967; portanto, quatro anos antes de Cantigas do Maio, dado a lume em 1971. Além disso, outros cantautores, como Sérgio Godinho ou Jorge Palma, sempre assumiram influências musicais advindas do estrangeiro e a sua obra não é menos portuguesa por causa disso. A obra de José Afonso, sobretudo na sua reta final, sempre com algumas grandes canções, mas um bocadinho repetitiva, com os discos a repisarem os mesmos terrenos estéticos, teria ganho se tivesse dialogado artisticamente com os ares frescos que sopravam. A dado momento, ainda se ouvem ecos do jazz, mas de modo esparso.

Tudo isto, evidentemente, não obsta a que a obra do Zeca, no seu conjunto, seja intemporal. E que o seu legado permaneça vivo. Como dei conta, continuam-se a fazer trabalhos de investigação e estudo interessantes e sérios sobre ele. Músicos das novas gerações têm-no como referência (ouça-se, por exemplo, “Prescrever”, de Agir). E, independentemente das opiniões políticas veiculadas nos seus trabalhos – todas antes da Queda do Muro, a que o cantor não teve oportunidade de assistir –, para lá de um talento melódico raro e de uma marca visionária fusionista, há nos seus álbuns uma ideia de Portugal, muito atual. É um Portugal livre, solidário, preocupado com o bem-estar de todos, aquele que habitamos na sua obra.  É um sítio onde as pessoas honestas e corajosas estão em maioria. Já que não podemos morar lá, que, pelo menos, façamos visitas regulares. Para saber quem somos, para onde vamos, e, sobretudo, para onde não queremos ir. Não é um sítio utópico. Para muitos de nós, é um país real a que chegaremos, mais cedo ou mais tarde.

[1] lcrsb@campus.ua.pt

o autor segue o AO de 1990

Investigador e docente no Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro, escritor e dramaturgo. Tem em curso a tese de doutoramento Filmar a Mente: David Lynch à Luz dos Estudos da Consciência de António Damásio e Amit Goswami. No mestrado, em Estudos Portugueses, escreveu a dissertação António Antes de Variações: O Percurso Inicial do Cantor.



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Colóquio “Seara Nova”: Discurso programático e intelectualidade republicana (1921-1979)

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Colóquio “Seara Nova”: Discurso programático e intelectualidade republicana (1921-1979)


Chamada de trabalhos



Encontra-se aberta a chamada de trabalhos para o Colóquio “Seara Nova”: Discurso programático e intelectualidade republicana (1921-1979), que decorre nos dias 7 e 8 de junho de 2021, na Fundação Mário Soares e Maria Barroso, em Lisboa.



A revista Seara Nova, quinzenário de “doutrina e crítica”, afirmou-se como o órgão de propaganda de um “Grupo” de intelectuais republicanos de esquerda imbuídos de uma missão doutrinal política, cívica e cultural. Ao longo de cerca de 60 anos (1921-1979), expressou o pensamento de gerações de intelectuais, interessados na reflexão crítica sobre as grandes questões da vida nacional, constituindo um testemunho imprescindível do percurso da intelectualidade republicana liberal e de esquerda no século XX.



Apela-se à participação neste colóquio através da submissão de propostas de comunicações enquadradas nos seguintes temas (ou de outros considerados pertinentes):
- Discursos programáticos na revista Seara Nova
- Intelectuais do corpo diretivo e colaboradores
- Polémicas na Seara Nova
- A Censura e a Seara Nova
- Seara Nova e a Oposição à Ditadura

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Promovida pela Fundação Mário Soares e Maria Barroso, em colaboração com a BLX-Hemeroteca Municipal de Lisboa e o HTC-História, Territórios e Comunidades / NOVA FCSH, a iniciativa integra as o programa comemorativo do centenário da criação da Seara Nova.



Calendário
Receção de propostas: até 23 de maio de 2021
Comunicação de resultados: até 28 de maio de 2021
Inscrições: até 4 de junho de 2021

As propostas de comunicações devem ser enviadas através de formulário eletrónico, onde devem constar: o nome do autor ou dos autores, a filiação institucional, o título da proposta, um resumo de, no máximo, 500 palavras, três palavras-chave, uma breve nota biográfica (200 palavras no máximo) e contactos do autor ou autores.



Formulário para submissão de propostas: https://forms.gle/Hbb4GasJkHQagb9i8

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Podcast Mural Sonoro: um podcast sobre mulheres na música, papéis, reportórios de luta e resistências...

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Podcast Mural Sonoro: um podcast sobre mulheres na música, papéis, reportórios de luta e resistências...

Um podcast sobre mulheres na música, papéis, reportórios de luta e resistências...Este podcast corresponde a uma parte do trabalho de campo no âmbito do doutoramento em História, especialização Contemporânea. Tese de doutoramento em curso com o títu…

Um podcast sobre mulheres na música, papéis, reportórios de luta e resistências...

Este podcast corresponde a uma parte de um trabalho de campo

Autoria, textos e edição de Soraia Simões de Andrade,

Ilustração de João Pratas,

Indicativo de Amélia Muge,

Design de som de A.José Martins e Paulo Lourenço

Esteve em acesso gratuito durante dois anos, considerado pela Universia, «um dos melhores podcasts nacionais»

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Fronteira Fechada de Alves Redol de  7 a 17 de Janeiro

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Fronteira Fechada de Alves Redol de 7 a 17 de Janeiro

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Meio século após o falecimento do escritor Neo-Realista Alves Redol, e três décadas depois da queda do muro de Berlim, a companhia Cegada leva ao palco do Teatro-Estúdio Ildefonso Valério, no concelho de Vila Franca de Xira, uma peça sobre a coragem de quem passa fronteiras clandestinamente - numa procura de intencional à pertinência com os dias de hoje, seja pelo polémico muro do México, as mortes do Mar Mediterrâneo que atormentam a política Europeia, ou outros casos menos mediáticos do mundo contemporâneo.

Inspirada na realidade portuguesa da década de sessenta, a peça revela que muitos homens já se tinham aventurado pela travessia clandestina fugindo do seu país e propõe-se partilhar a realidade das mulheres que os seguem, em busca do sonho de uma vida melhor junto dos que (ainda) julgam seus.
Este é o momento histórico em que o autor apoia o seu última peça de teatro, editada postumamente em 1972.

Num abrigo caldestino (o pai, o filho e um colaborador) passa um grupo de migrantes, cinco mulheres. No primeiro acto apresentam-se ao que vêm e partilham os sonhos que as motivam a colocarem-se, de forma tão vulnerável, sob as regras dos contrabandistas - únicos que devido à sua actividade profissional conhecem as fragilidades das autoridades vigilantes, os segredos da montanha, e deles fazem uso a troco de dinheiro. São todas mulheres - o autor faz regularmente uso da ideologia associada à estética Neo-Realista para expor o ponto de vista do feminino, o papel da Mulher e a sua condição entre os homens na miséria.

O traficante (a personagem com o nome de Velho) é um homem traumatizado pela perda da juventude. Assombrado pela aproximação da morte pela idade decide enriquecer a todo o custo para garantir evitar a miséria na velhice. Permite que todas migrantes passem, continuem a sua travessia, excepto uma que o este dono do negócio impede de continuar caminho, alterando assim a sua condição de migrante para prisioneira.

Ao compreender a sua posição de clausura esta mulher (nunca definida claramente pelo autor - por se tratar de uma migrante ideológica e a sua indefinição permitir a fuga da obra dramática à censura literária do regime) irá então promover um jogo de sedução e conflito no seio da quadrilha (pai e filho: contrabandistas) até descobrir o caminho secreto que lhe permite a fuga pela montanha e recuperar a liberdade.

MULHER: "Haja o que houver, o país para se viver é o nosso. (...) Há que procurar nele a felicidade .Exigi-la, se for necessário.(...) Vou entrar num jogo difícil para sair daqui, mas liberdade não tem preço.
(…)
VELHO:"Um dia também tu chegarás à minha idade. Só então saberás o que é a incurável doença da idade. (...) Vê se imaginas o que é caminhar todos os dias para qualquer coisa de irremediável."

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Notas

FICHA ARTÍSTICA
TEXTO: Alves Redol
ENCENAÇÃO: Rui Dionísio
ELENCO ORIGINAL: João Cabral, Susana Sá, Marques d'Arede, Elisabete Piecho, Erica Rodrigues, Tó Zé Santos, Fátima Encarnado e Bruna Costa
PRIMEIRA ASSISTENTE: Sara Monteiro
CENOGRAFIA E FIGURINOS: Ana Paula Rocha
MONTAGEM E CARPINTARIA DE CENA: Abel Duarte, Fábio Duarte e Rui Santos
ILUMINAÇÃO E SONOPLASTIA: Vladimiro Cruz
GESTÃO ADMINISTRATIVA E FINANCEIRA: Eduarda Oliveira
ESTAGIÁRIAS: Ana Lima, Catarina Tavares e Sara Rodrigues
CRIAÇÃO: Cegada Grupo de Teatro

- Quintas-feiras, dias 7 e 14 às 21 horas
- Sextas-feiras, dias 8 e 15 às 21 horas
- Domingos, dias 10 e 17, às 11 horas

No contexto da epidemia mundial COVID-19, o  acesso ao espectáculo é efectuado com base em todas as práticas de saúde pública recomendadas pela Direcção-Geral de Saúde e os horários apresentados encontram-se de acordo com as mediadas de contingência decretadas pelo Governo de Portugal.

Solicita-se particular atenção para o facto de todas as reservas estarem sujeitas à lotação da sala em formato de contingência pandémica (43 lugares) pelo que se aconselha a efectivação antecipada da reserva:

INFORMAÇÕES E RESERVAS

926 941 164 - 
publico.teiv@gmail.com

A companhia Cegada iniciou a sua actividade em 1986 sob a direcção artística de Ildefonso Valério, formalizando-se em 2000 com a figura jurídica de Associação Cultural sem fins lucrativos. Após passar por diversos espaços improvisados onde apresentou as suas criações ao longo dos anos, passa a residir no TEIV - Teatro-Estúdio Ildefonso Valério em Alverca do Ribatejo em 2004 e, a partir deste espaço cultural público, organiza o primeiro festival de teatro de toda a região Norte de Lisboa.
Com a direcção artística de Rui Dionísio profissionaliza-se em 2012. Em 2017 desenvolve uma programação artística anual, de criação e acolhimento, no TEIV - Teatro Estúdio Ildefonso Valério.

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Pelo fio dos Versos Amelia Muge e Filipe Raposo, 17 de Outubro

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Pelo fio dos Versos Amelia Muge e Filipe Raposo, 17 de Outubro

Pelo Fio dos Versos

Amélia Muge e Filipe Raposo

Este concerto é o ponto de partida, para, tendo como referência o nosso amor à poesia, partilharmos uma viagem pelo fio dos versos convocando, através das palavras e da música, poetas, histórias, formas de ver, sentir, ouvir, tocar e cantar o mundo. Não é uma vacina, mas faz bem à saúde. Ondula como um canto o poema. Cria mapas, pinturas sonoras, ecoa em nós no fundo de uma palavra, de uma pausa, de um silêncio, de um grito mudo que fica ali, à espera de nós, para nos sair pela boca fora, como quem respira. São as palavras dos poetas, que quando nos tocam se libertam, qual pássaro preso numa gaiola de sons, circunscrito ao espaço fechado da página, no momento em que um olhar, uma garganta, uma mão no piano, abre a gaiola e as sentimos na boca, no palavrar; no hálito da terra.

Amélia Muge e Filipe Raposo vão trazer alguns dos poetas que gostam de ouvir e ver. Sentem-se com eles. À escuta. É uma mesa cheia de apetites. Sirvam-se e repitam do que quiserem. É uma mesa farta onde todos têm lugar.

pelo fio dos versos.jpg


Ela canta. Ela canta. É uma voz da terra, é uma voz das veias

Seria talvez um músculo sombrio, um ombro preso a um muro

Agora canta lentamente e é um monte sublevando-se

Uma coluna ondula e o seu volume cresce com o hálito da terra

É uma voz que canta com as secretas fontes do corpo

Com as pálpebras, com as pupilas, com os braços côncavos

E é como se reunisse em voluptuosas braçadas

as grandes flores do vento, as lentas anémonas do mar

Essa voz tem a nudez sombria de um afectuoso felino

e nasceu talvez da respiração quando dilatou o ventre

para libertar os tumultuosos arcos

que ela modela ao ritmo das sombras

e das lâmpadas vegetais entre os seus flancos azuis

António Ramos Rosa, sobre o canto de Amélia Muge

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REVISTA MURAL SONORO Nº 2

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REVISTA MURAL SONORO Nº 2

capa, pintura de Paulo Robalo para este número

capa, pintura de Paulo Robalo para este número

*Recebemos muitas mensagens de agradecimento após a publicação do primeiro número da Revista Mural Sonoro em Junho de 2020

Talvez devido à dimensão do número (cerca de oitenta páginas) e da nossa proposta (o cruzamento entre práticas culturais e artísticas, a história contemporânea e outras ciências sociais e humanidades) continuamos a receber mensagens com conteúdos distintos mas sempre laudatórios de novos leitores e ouvintes da Mural Sonoro. O que me deixa muito emocionada e, apesar da frequente inquietação, com uma sensação boa, em certa medida, de cumprimento de alguns objectivos que têm alimentado quer este processo de criação da revista como a natureza da Mural Sonoro enquanto plataforma associativa.

As temáticas que abordamos não estão circunscritas a um tempo ou a um espaço, ou mesmo que daí possam partir (de uma conjuntura histórica ou de um contexto espacial precisos), têm o desejo de diálogo com a actualidade ou de ousar uma reflexão, em várias disciplinas, que se centre no pensamento e no diálogo comparativos e complementares entre o passado e a contemporaneidade.

Temos uma vontade acrescida de continuar a fazer mais e melhor, com tempo e critérios editoriais. Foi por esta razão que decidimos alterar para trimestral a periodicidade da revista.

A revista Mural Sonoro é gratuita e pretende continuar a sê-lo no universo digital, embora tenhamos determinado a publicação de um número anual impresso, pelo que o contributo de quem nos lê é importante.

Neste número estão em destaque textos de Amanda Palomo Alves, Diogo Varela Silva, Érica Faleiro Rodrigues, Eugénia Melo e Castro, Gabriela Ruivo Trindade, Joseph Silva, Luana Loria, Lucas Fidalgo Knoeller, Luís d’Alva Teixeira, Miguel Tiago, Paulo Robalo, Ricardo Alexandre, Rui Almeida, Susan de Oliveira e Virgínia Baptista.

Num novo separador, Sala de Estar, as conversas que mantive com Jorge Silva Melo (Artistas Unidos), Luís Afonso (A Mosca, Bartoon) e Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves (Clã).

No nosso canal Youtube as entrevistas a Pedro Schacht Pereira (The Ohio State University, vídeo-entrevista) e Isabel Cabral e Rodrigo Cabral (Galeria Serpente, Porto) dirigida pelo artista plástico Paulo Moreira. Em destaque ainda as imagens da fotógrafa Helena Silva durante o recolho primeiro e a incerteza posterior a que a peste nos tem votado.

Boas leituras e audições.


*Soraia Simões de Andrade  

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