TRUST-PAULO MOREIRA
exposição permanente
inaugurada a 18 de Maio
com curadoria de Soraia Simões de Andrade
TRUST mostra como a experiência da arte em tempo de confinamento se relaciona inevitavelmente com os meios digitais, seja do ponto de vista da criação como da fruição da mesma. Essa nova realidade é edificada por uma dicotomia: se por um lado existe uma impessoalidade, desumanização até, nessa relação do artista com as máquinas e a tecnologia, por outro lado o artista vê neste tempo de isolamento uma oportunidade de questionar a clausura individual e colectiva, atentando sinais e comportamentos, redes de solidariedade e divulgação de propostas artísticas.
TRUST foi feita neste período de permanente alerta e incertezas. A vivência do artista, a consulta, a pesquisa estiveram intrinsecamente e intensamente ligadas aos meios digitais e à internet. A ideia de globalização que a pandemia Covid-19 nos convoca é simultaneamente limitada pela ausência de laços e interpessoalidades tal como os conhecíamos. TRUST parte da reflexão sobre a exequibilidade deste «novo normal». Continuamos em tempos líquidos, de destruição de laços, tal como o sociólogo Zygmunt Bauman os definia, mas também de reconstrução e posicionamentos. Ou, se quisermos, tempos em que questionamos a veracidade dessa rede cooperativa de ajudas e compreensão sociais numa sociedade do cansaço*, como o filósofo coreano Byung-Chul Han nos descreveu ao expor os efeitos colaterais de um mercado de palestras, narrativas e livros e carácter motivacionais que crescem no século vinte e um no universo digital e que a peste de 2020 ajudou a crescer.
TRUST é uma exposição marcada pela antítese desumanização vs interajuda no digital, clausura vs expansão digital.
PUNCH
TRUST abre com uma vídeo projecção do artista. Boris Fortuna, um dos alter-egos de Paulo Moreira, encarna o papel do músico e do produtor de música. Há uma apropriação assumida do que circula na internet que o artista aqui retrata: radiografia da contemporaneidade, dos hábitos de vida.
O artista recupera e traz para este momento histórico um texto do século dezanove de Walt Whitman. Não se trata de uma ressignificação total do texto do poeta, antes de uma adaptação ao tempo que vivemos marcado pela pandemia, para uma conjuntura onde os desejos (de consumo, de liberdade) se auto-reprimem e intensificam alternadamente.
Soraia Simões de Andrade (curadora) sobre TRUST- Paulo Moreira**
*A Sociedade do Cansaço, Relógio d’Água, edição portuguesa 2014.
**Informações sobre preços, quadros representados nas imagens: +351 919 789 488.
Acerca do artista
Paulo Moreira (V. Nova de Gaia, Portugal).
Nasceu em Luanda, Angola (1968), actualmente vive e trabalha em Vila Nova de Gaia.
Em 1993 licenciou-se em Educação Visual na Escola Superior de Educação de Portalegre (ESEP). Mestre em“Desenho e Técnicas de Impressão” pela Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto e com uma Pós-graduação em “Teorias e Práticas do Desenho” da mesma faculdade. Expõe individual e colectivamente desde a década de 1990, em Portugal, Espanha, Inglaterra e Canadá. Tem obra representada na Colecção da fundação do “Banque Privée Rothshild” (1o Prémio Edmond Rothshild de Pintura – Obra adquirida colecção Rothschild, 2003), na Colecção do Museu da Faculdade de Belas Artes Universidade do Porto (FBAUP) – “5 Séculos de Desenho da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto”, núcleo de Desenhos Contemporâneos, séc. XX e XXI – Museu Nacional de Soares dos Reis, Porto, entre outros.
Desenvolve o seu trabalho nas áreas do Desenho, da Pintura, da Vídeo-Instalação e da Performance (fundador do colectivo Sindicato do Credo). Exerce também actividade docente. Fortemente influenciado pelas notícias, pelos locais onde circula e pelas pessoas com quem se relaciona, Paulo Moreira é um observador atento dos fenómenos sociais.
Com um trabalho que procura ser o retrato filtrado de questões quotidianas, as suas criações estão ancoradas no universo de estéticas ligadas à arte urbana, não só pela escolha de materiais e técnicas, como pelo seu posicionamento conceptual. O artista desenvolve igualmente vídeo, instalação e performance, onde procura introduzir linguagem plástica semelhante à das suas pinturas. Procura inspiração em diversos territórios da Arte Moderna e do pós Modernismo: do Neoexpressionismo à Pop Arte, passando pela Poesia Visual e Arte Concetual de John Baldessari, a Marcel Broodthaers e a Jenny Holzer, autora da célebre frase “Die fast and quiet when they interrogate you or live so long that they are ashamed to hurt you anymore” que Paulo toma de empréstimo em alguma das suas obras. «Procuro com os meus vídeos estabelecer paralelismos com a pintura e o desenho. Eles não têm nada a ver com cinema. A imagem dilui-se, criando apenas cor e mancha. São videopinturas!»