87ª Recolha de Entrevista
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BI: António João Ferreira Pinto Basto nasceu na cidade de Évora, Alentejo, no ano de 1952.
Cedo se destacou no Alentejo, entre os da sua geração, como um dos mais populares intérpretes de fado.
Tinha apenas 13 anos quando os pais o levaram a uma noite de fados na Feira dos Salesianos de Évora. Feira essa que lhe determinaria o gosto pelo universo do Fado.
O seu avô, João de Vasconcellos e Sá, teria de igual forma um papel importante no percurso que acabou por fazer. Autor de diversos poemas, António Pinto Basto acabaria por cantar letras originais nos fados tradicionais. A par do repertório deixado pelo avô, que o fadista acabou por não conhecer em vida, o seu tio, José de Vasconcellos e Sá, apreciando as interpretações do seu sobrinho, resolve levá-lo a Lisboa.
Nesta recolha de entrevista, da qual se disponibiliza uma parte no arquivo online, o fadista conta que com apenas 16 anos participou na Grande Noite do Fado, como representante da Casa do Alentejo e cantou em algumas casas de fado, fala dos primeiros fonogramas que gravou, da importância e do modo como lida com as diferenças que assumem os espectáculos ao vivo, o contacto com o estúdio de gravação, com a casa de fados e com o registo televisivo e o playback. Nesta conversa é também crítico relativamente a algumas mudanças, fruto do avanço das sociedades, no universo do Fado exemplificando-as.
De ressalvar ainda desta conversa de cerca de três horas, que foi de facto por intermédio desse tio que grava o primeiro disco, em 1970. Um EP editado pela Alvorada, com letras do avô e do tio e músicas do fado tradicional (“Fado Franklin”, “Fado Vitória”, “Fado Dois Tons” e “Fado das Horas”). Sendo aos 17 anos, e por causa deste primeiro fonograma, que inicia a sua carreira como fadista. Nos anos de 1972 e 1973 gravou mais dois EPs. Depois foi estudar para Luanda e voltou um mês depois do 25 de Abril. Na conversa atenta também como o pré e pós revolução influenciariam o Fado e a actuação/impressão dos vários agentes sociais externos à sua prática em torno dele. Sobretudo os papéis assumidos pelo meio de publicação e difusão nestes períodos.
António Pinto Basto conta que fez o curso de Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, estabeleceu-se nessa profissão, mas os espectáculos ao vivo que foi fazendo, em Portugal e no estrangeiro, actuando nos Estados Unidos, Brasil, Espanha, França e Angola, acabaram por se sobrepor à sua formação académica. Em 1988 gravou o LP “Rosa Branca”, cujo tema título era um poema do seu avô. As vendas atingiram o disco de platina. Nos 3 meses que se seguiram deu 73 entrevistas e nesse ano realizou cerca de 120 espectáculos. Tornou-se incomportável manter a actividade profissional como engenheiro, que acabou por abandonar no final de 1989.
Trabalhava como engenheiro na Siderurgia Nacional quando foi contactado pela Polygram para gravar. A sua ideia era pôr em disco as coisas que cantava há muitos anos mas que não eram conhecidas do grande público. A ideia da editora era concorrer com o sucesso de Nuno da Câmara Pereira, editado pela EMI, acabando por provocar um afastamento de Nuno da Câmara Pereira, que deixaria de lhe falar por este motivo.
Com a edição do primeiro LP o fadista recebeu vários prémios, caso do Grande Prémio "Revelação" da Rádio Renascença, do "Sete de Oiro - Revelação" e do "Sete de Oiro - Fado". No ano seguinte, 1989, receberia o Grande Prémio "Popularidade" e “Disco-Revelação” da Rádio Renascença, e o prémio "Popularidade" atribuído pela Casa da Imprensa. No final desse ano edita o álbum duplo “Maria” que, tal como o antecessor, atingiu números significativos de vendas. Dois anos mais tarde, em 1991, sairia “Confidências à Guitarra”.
Após o sucesso granjeado nestes anos, a Polygram decide no ano de 1993 editar a compilação “Os Grandes Sucessos de António Pinto Basto”. No final de 1995, na esteira de um concerto realizado na sua cidade natal, é editada uma vídeo-cassete intitulada "António Pinto Basto em Évora".
Na década de 90 sucedem-se os espectáculos fora de Portugal. Em 1992 faz espectáculos em quatro continentes, apresenta-se em Toronto (Canadá), em Macau e Hong-Kong, em Angola e em Sevilha, no âmbito da Expo’92. Ainda nesse ano volta ao Canadá para mais quatro concertos e alguns mais nos Estados Unidos da América.
No ano de 1994, é convidado pelo Instituto Cultural de Macau para ser solista numa digressão que a Orquestra Chinesa de Macau efectuaria em Portugal, onde se incluem dois espectáculos em Lisboa, um no Teatro S. Luís, no âmbito da Lisboa’94, Capital Europeia da Cultura e outro, de gala, no Teatro Nacional de S. Carlos. Novamente como solista apresenta-se, no ano seguinte, no VI Festival de Artes de Macau. Ainda em 1995 efectua dois concertos em Goa, na Índia, actua em Palermo e Sicília, na Itália, representando Portugal num Festival de Música Mediterrânica, e vai a Caracas, integrado no grupo de artistas que realizam o espectáculo da Festa das Comunidades Portuguesas promovido pela R.D.P.I.
Grava o CD “Desde o Berço”, em 1996, para a BMG. Continuam a chegar-lhe inúmeros convites para apresentações ao vivo e nesse mesmo ano volta ao Canadá e actua para a comunidade portuguesa em Londres. Em 1997 destacam-se dois concertos na Turquia, por intermédio da Comissão Europeia e da Embaixada de Portugal em Ancara, e as actuações em Bruxelas e, novamente, no Canadá.
No ano de 1998, António Pinto Basto realiza uma pequena digressão pelas comunidades portuguesas na Europa, actua na EXPO’98 e tem a seu cargo, como produtor, a programação do palco de fado durante cinco semanas. É o primeiro fadista a ter um espaço em nome próprio na Internet, que hoje (à data em que esta recolha é feita: Março de 2014) não existe. Ainda no ano de 1998 a Casa da Imprensa atribui-lhe o “Troféu Neves de Sousa".
Faz uma digressão pela América do Norte, com actuações em Montreal, Toronto, Ottawa e Newark, e alguns espectáculos em S. Paulo e no Rio de Janeiro, durante 1999. No ano seguinte integra o grupo “Land of Fado”, organizado por João Braga, que se apresenta em Newark, nos Estados Unidos.
Ainda em 2000, António Pinto Basto é convidado a produzir e apresentar, por convite da Radiotelevisão Portuguesa, um programa semanal dedicado ao Fado, nos canais R.T.P.I. e R.T.P. África, intitulado “Fados de Portugal”.
O disco “Rendas Pretas”, editado em 2001, afasta-se do fado, apresentando músicas compostas por José Campos e Sousa para poemas seleccionados pelo compositor. No fonograma que se lhe seguiu, “Letras do Fado Vulgar”, o fadista interpreta poemas de Vasco Graça Moura, novamente com músicas compostas por José Campos e Sousa.
Paralelamente, António Pinto Basto concorre à presidência da Câmara Municipal de Estremoz e toma posse como vereador, pelo Partido Social Democrata, em 2002.
Na celebração dos seus 35 anos de carreira António Pinto Basto edita o CD “Bodas de Coral”, pela Zona Música, com apresentação de um espectáculo no Casino Estoril, a que se seguem actuações um pouco por todo o país.
O disco “Bodas de Coral” marca a estreia de António Pinto Basto como autor de poemas, com o tema “Madrigal para Amália”, escrito em homenagem à fadista. Anteriormente, António Pinto Basto havia já composto algumas músicas, como é o caso de “Nobre Cidade Évora”, editada no disco “Rosa Branca”, ou de “Já Vives dentro de mim”, esta integrada no álbum “Maria”. Neste CD António Pinto Basto volta apresentar músicas de sua autoria nos temas: “Gostava”, com poema de Vasco Telles da Gama, e “O Castanheiro”, com poema do seu avô, João Vasconcellos e Sá.
Em 2004 António Pinto Basto integrou o projecto “Quatro Cantos”. Ao lado de Maria Armanda, Teresa Tapadas e José da Câmara, interpretando alguns êxitos da história do Fado que foram já registados nos CDs e DVDs: “5 Décadas de Fado”, em 2004, e “Do Presente ao Passado no Fado”, em 2006.
Actualmente diz-se 'conformista' e 'adaptado' fase a algumas das mudanças a que tem assistido, nem sempre com agrado, no universo do Fado. Continua a ser nos espectáculos ao vivo que sente melhor aquele que é a actividade da qual escolheu viver há já quatro décadas.
© 2014 António Pinto Basto à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo
Recolha efectuada no Museu do Fado
Som, Pesquisa, Texto: Soraia Simões
Fotografias: Helena Silva