42ª Recolha de Entrevista
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BI: João Maria Centeno Gorjão Ramos Jorge, conhecido por Rão Kyao, nasceu em Lisboa no ano de 1947.
É um músico, flautista e saxofonista, fortemente inspirado pela música feita no Oriente (Índia, África, China) e a que é feita em Portugal. Tem estabelecido ao longo dos anos as relações, que se tendem a dissapar, entre a “tradição musical portuguesa” e o Oriente.
Editou, até hoje, cerca de 18 fonogramas, onde se contam alguns expressivos como: "Malpertuis" (1976), "Bambu" (1977), "Goa" (1979), "Ritual" (1982) ou "Macau O Amanhecer" (1984).
Embora tenha estado em círculos que se começavam a formar em Portugal (como o jazz), o seu fascínio pela música oriental, capaz de o levar a fixar-se em Bombaim durante alguns meses, sempre estiveram presentes na sua abordagem à música.
Na década de 80, quando os seus discos conquistavam galardões de ouro e platina - com "Fado Bailado" (1983), onde juntamente com António Chaínho, revisitava alguns dos mais célebres temas da canção urbana de Lisboa à luz do saxofone, propondo pela primeira vez uma nova dimensão para o fado, ou com "Estrada da Luz" (1984) e "Oásis" (1986), álbuns onde voltou à flauta de bambu para mostrar as afinidades entre a ‘música tradicional portuguesa’ e a ‘música indiana’ - vai até ao Brasil, onde gravou o álbum "Danças de Rua" (1987), fortemente inspirado na riqueza rítmica da música feita no nordeste brasileiro.
Mas, em "Viagens na Minha Terra" (1989) ou em "Viva o Fado" (1996), voltou à intenção de cruzar a música portuguesa com as suas origens e em "Delírios Ibéricos" (1992) o fortalecimento da experiência ibérica para a música que criava.
Nos anos noventa, editou também "Águas Livres" (1994) e "Navegantes" (1998. A ligação por si potenciada entre a música feita entre Portugal e o Oriente (sobretudo Macau), mas em"Junção" (1999), acompanhado pela Orquestra Chinesa de Macau, volta a estar presente.
É em "Junção" que se encontra o tema da autoria de Rão Kyao interpretado durante a cerimónia que celebrou a passagem do território de Macau para a República Popular da China.
Em "Fado Virado a Nascente" (2001), acompanhado pela fadista Deolinda Bernardo e pela cantora Teresa Salgueiro, no tema "Deus Também Gosta de Fado", o músico propõe de novo uma outra abordagem.
Nesta recolha de entrevista, entre outros aspectos, Rão Kyao reflexiona sobre as principais motivações que encontra para aquilo que faz, sobre as suas ligações à música árabe ou indiana e chinesa, sobre a superficialidade que sente, no contexto musical operado em Portugal, no que respeita ao retorno de algumas noções como: ‘uma tradição’/origem ou um ‘som português’, sobre a relevância do sentir a música que cria e nela se rever antes desta chegar ao público, do seu mais recente fonograma ('Coisas que a Gente Sente', editado em 2012), mas também sobre algumas das fragilidades da indústria musical e do ‘seu espaço’, (que pensa já ter conseguido) no contexto da música popular que é feita em Portugal e, até, noutras partes do mundo (dos já referidos), que lhe têm servido de inspiração para a criação.
© 2012 Rão Kyao à conversa com Soraia Simões, Perspectivas e Reflexões no Campo
Som sem edição, Pesquisa, Texto: Soraia Simões
Fotografia de capa de Patrícia Machado durante o debate organizado por Mural Sonoro e Moderado por Soraia Simões ''O Fado e as outras Músicas Populares, Relações de Proximidade e distância'' do Ciclo: Conversa à volta da Guitarra Portuguesa, que contou com João Braga e Rão Kyao
Recolha efectuada em LARGO Residências com paisagem sonora incluída (sem edição)