2º. Encontro Memória para Todos - Comunidades e Sustentabilidade 18 de Novembro
História Oral e Audiovisual, 26 de Novembro pelas 10h, plataforma Zoom, sujeito a inscrição prévia
Pelo Fio dos Versos
Amélia Muge e Filipe Raposo
Este concerto é o ponto de partida, para, tendo como referência o nosso amor à poesia, partilharmos uma viagem pelo fio dos versos convocando, através das palavras e da música, poetas, histórias, formas de ver, sentir, ouvir, tocar e cantar o mundo. Não é uma vacina, mas faz bem à saúde. Ondula como um canto o poema. Cria mapas, pinturas sonoras, ecoa em nós no fundo de uma palavra, de uma pausa, de um silêncio, de um grito mudo que fica ali, à espera de nós, para nos sair pela boca fora, como quem respira. São as palavras dos poetas, que quando nos tocam se libertam, qual pássaro preso numa gaiola de sons, circunscrito ao espaço fechado da página, no momento em que um olhar, uma garganta, uma mão no piano, abre a gaiola e as sentimos na boca, no palavrar; no hálito da terra.
Amélia Muge e Filipe Raposo vão trazer alguns dos poetas que gostam de ouvir e ver. Sentem-se com eles. À escuta. É uma mesa cheia de apetites. Sirvam-se e repitam do que quiserem. É uma mesa farta onde todos têm lugar.
Ela canta. Ela canta. É uma voz da terra, é uma voz das veias
Seria talvez um músculo sombrio, um ombro preso a um muro
Agora canta lentamente e é um monte sublevando-se
Uma coluna ondula e o seu volume cresce com o hálito da terra
É uma voz que canta com as secretas fontes do corpo
Com as pálpebras, com as pupilas, com os braços côncavos
E é como se reunisse em voluptuosas braçadas
as grandes flores do vento, as lentas anémonas do mar
Essa voz tem a nudez sombria de um afectuoso felino
e nasceu talvez da respiração quando dilatou o ventre
para libertar os tumultuosos arcos
que ela modela ao ritmo das sombras
e das lâmpadas vegetais entre os seus flancos azuis
António Ramos Rosa, sobre o canto de Amélia Muge
*Recebemos muitas mensagens de agradecimento após a publicação do primeiro número da Revista Mural Sonoro em Junho de 2020.
Talvez devido à dimensão do número (cerca de oitenta páginas) e da nossa proposta (o cruzamento entre práticas culturais e artísticas, a história contemporânea e outras ciências sociais e humanidades) continuamos a receber mensagens com conteúdos distintos mas sempre laudatórios de novos leitores e ouvintes da Mural Sonoro. O que me deixa muito emocionada e, apesar da frequente inquietação, com uma sensação boa, em certa medida, de cumprimento de alguns objectivos que têm alimentado quer este processo de criação da revista como a natureza da Mural Sonoro enquanto plataforma associativa.
As temáticas que abordamos não estão circunscritas a um tempo ou a um espaço, ou mesmo que daí possam partir (de uma conjuntura histórica ou de um contexto espacial precisos), têm o desejo de diálogo com a actualidade ou de ousar uma reflexão, em várias disciplinas, que se centre no pensamento e no diálogo comparativos e complementares entre o passado e a contemporaneidade.
Temos uma vontade acrescida de continuar a fazer mais e melhor, com tempo e critérios editoriais. Foi por esta razão que decidimos alterar para trimestral a periodicidade da revista.
A revista Mural Sonoro é gratuita e pretende continuar a sê-lo no universo digital, embora tenhamos determinado a publicação de um número anual impresso, pelo que o contributo de quem nos lê é importante.
Neste número estão em destaque textos de Amanda Palomo Alves, Diogo Varela Silva, Érica Faleiro Rodrigues, Eugénia Melo e Castro, Gabriela Ruivo Trindade, Joseph Silva, Luana Loria, Lucas Fidalgo Knoeller, Luís d’Alva Teixeira, Miguel Tiago, Paulo Robalo, Ricardo Alexandre, Rui Almeida, Susan de Oliveira e Virgínia Baptista.
Num novo separador, Sala de Estar, as conversas que mantive com Jorge Silva Melo (Artistas Unidos), Luís Afonso (A Mosca, Bartoon) e Manuela Azevedo e Hélder Gonçalves (Clã).
No nosso canal Youtube as entrevistas a Pedro Schacht Pereira (The Ohio State University, vídeo-entrevista) e Isabel Cabral e Rodrigo Cabral (Galeria Serpente, Porto) dirigida pelo artista plástico Paulo Moreira. Em destaque ainda as imagens da fotógrafa Helena Silva durante o recolho primeiro e a incerteza posterior a que a peste nos tem votado.
Boas leituras e audições.
no prelo Revista Mural Sonoro Nº 2 Setembro 2020
Revista Mural Sonoro Número 1 - 22 de Junho de 2020
TRUST-PAULO MOREIRA (18 de Maio a 30 de Setembro), curadora: Soraia Simões de Andrade
Antirracismo e Rap no Feminino por Pedro Varela
O Estado Novo e o Cinema, por Manuel-Pessôa Lopes
Ler por aí…reabre portas a onze de Maio com todas as precauções [take away, livros, refeições e vinhos para viajar no bairro dos Anjos, Lisboa, sem sair de casa]
Subterrâneos da Precariedade, documentário de Luís Monteiro
Onde está a nossa mão? por Pedro Branco
E agora onde fica a dança? por Marina Frangioia
Concurso artístico El Paisaje a través de mi ventana
Hydroxycholorquine Essay by Wynton Guess
Cadernos de Arte e Antropologia
CfP "A Sonic Anthropocene – Sound Practices in a Changing Environment" / "Antropoceno Sónico – Práticas Sonoras para um Ambiente em Mudança"
Deadline: 31/07/2020
Since it was first proposed in the early 2000s, the concept of the Anthropocene has gained currency as an interpretive framework to critically examine the increasing impact of human activity on the environment, suggesting the beginning of a new geological epoch. The extension of human agency over the functioning of Earth systems has caused mass transformations upon various material scales, leaving an imprint that has been considered a global geophysical force. This has further problematized both the epistemic and pragmatic application of the nature/culture divide, raising questions about the methodological intervention of various disciplinary fields.
Along with the prolific visual culture developed with the Anthropocene hypothesis - including a large number of infographics, maps and visual documentation of planetary transformations - the present socio-ecological changes equally require practices of listening and aural documentation that register the transformations in the acoustic landscapes of cities and natural environments. These practices of listening and aural documentation might further the capacity of registering the transient space that the Anthropocene occupies in the material domain, while opening up a space for an extended sensibility that accounts for transformations across scales, from the molecular to the societal and the planetary. This space of potential proposed by the Sonic Anthropocene brings forward new possibilities for involving aural documentation tools in environmental affairs, while holding on to the critiques addressed to previous ecological debates initiated in the sonic field, such as is the case of the acoustic ecology movement.
The Sonic Anthropocene attempts to devise critical and practical methodologies that place renewed attention in the registration of how a location’s soundscape shapes the possibilities for listening and sounding of situated people and other living entities, having into account the transformations of the surrounding environment, and the crescent pressure of exponentially industrialized societies and gentrified urban landscapes. From the hums and sonic bursts of deep sea drilling to the prospect of silent springs to come, by way of the trolley rattling and engineered-for-authenticity sonic ambiances of the tourist city, listening to Anthropocene topologies invites for new reflections on scale, presence, permanence, agency and the experience underlyed by the present political moment.
This special issue of Cadernos de Arte e Antropologia seeks to make a contribution to these reflections by placing sound at the centre of an interdisciplinary conversation about the economic, social, cultural, political and ecological processes that underlie the current planetary transformations. We would like to encourage scholars, artists and practitioners from a diverse range of disciplines to submit proposals for articles, sonic essays or mixed media contributions that may address topics that are related, but not limited to:
Sonic ecoactivism and the ecological crisis
Biopolitics of natural soundscapes
The sustainability of sonic urban ambiances
Sonic ecosystems and the ecological dimension of sound and music
Alternative sonic forms of solidarity and being-together in times of uncertain futures
Sound art and Environmental Fictions
Sounding the environment across scales
Environmental spectralities and nonhuman audition
Sonic responses to the COVID-19 pandemic
Soundscape as site of negotiation and controversy
We encourage proposals comprising sonic and/or visual forms as well as mixed media. Please check the journal’s Section Policies. All contributions should be submitted online and follow the rules for submission indicated on the journal’s website (http://cadernosaa.revues.org/). Prospective contributors with questions regarding the potential suitability of topics, editorial expectations, or any other questions with regard to this special issue are invited to contact the Guest Editors directly by email to isanchez@fcsh.unl.pt.
CfP "Antropoceno Sónico – Práticas Sonoras para um Ambiente em Mudança"
Desde que foi proposto pela primeira vez no início do século, o Antropoceno ganhou força como um enquadramento interpretativo para examinar criticamente oimpacto crescente da atividade humana no meio ambiente, sugerindo o início de uma nova época geológica. A extensão da ação humana sobre o funcionamento dos sistemas terrestres causou transformações em massa em várias escalas materiais, deixando uma marca que tem sido considerada uma força geofísica global. Estes eventos problematizam a aplicação epistémica e pragmática da divisão natureza / cultura, levantando questões sobre a intervenção metodológica de vários campos disciplinários.
A par da prolífica cultura visual desenvolvida em torno da hipótese do Antropoceno - incluindo um grande número de infografias, mapas e documentação visual das transformações planetárias - as atuais mudanças sócio-ecológicas exigem igualmente práticas de escuta e documentação auditiva que registem as transformações nas paisagens acústicas das cidades e dos ambientes naturais. Essas práticas de escuta e documentação auditiva podem aumentar a capacidade de registar o espaço transitório que o Antropoceno ocupa no domínio material, ao mesmo tempo que abre espaço para uma sensibilidade expandida que explica as transformações ao longo de várias escalas, do molecular, ao social e planetário. Este espaço de potencial proposto pelo Antropoceno sónico apresenta novas possibilidades para envolvers ferramentas de documentação auditiva nos assuntos ambientais, não esquecendo as críticas levantadas por debates ecológicos iniciados anteriormente no campo sonoro, como é o caso do movimento da ecologia acústica.
O Antropoceno sónico tenta propor metodologias críticas e práticas que dirijam uma atenção renovada ao registo do modo como a atmosfera sonora de um local molda as possibilidades de ouvir e fazer soar de pessoas situadas e outras entidades vivas, tendo em conta as transformações do ambiente circundante, bem como a crescente pressão de sociedades exponencialmente industrializadas e paisagens urbanas gentrificadas. Dos zumbidos e explosões sonoras da perfuração no mar profundo, à prospetiva de primaveras silenciosas vindouras, entre o ressoar dos trolleys e os ambientes sonoros desenhados para recriar a autenticidade da cidade turística, escutar as topologias do Antropoceno convida a novas reflexões sobre escala, presença, permanência, agência e a experiência subjacente ao momento político atual.
Este dossiê dos Cadernos de Arte e Antropologia procura contribuir para estas reflexões, colocando o som no centro de uma conversa interdisciplinar sobre os processos económicos, sociais, culturais, políticos e ecológicos que potenciam as atuais transformações planetárias.
Convidamos investigadores, artistas e profissionais de diversas disciplinas a enviar propostas de artigos, ensaios sonoros ou contribuições de mixed media que possam abordar tópicos relacionados, mas não limitados a:
Ecoativismo sónico e a crise ecológica
Biopolítica das paisagens sonoras naturais
A sustentabilidade de ambientes urbanos sónicos
Ecossistemas sónicos e a dimensão ecológica do som e da música
Formas sonoras alternativas de solidariedade e união em tempos de futuro incerto
Arte sonora e ficções ambientais
Escutar o ambiente através de várias escalas
Espectralidades ambientais e audição não-humana
Respostas sónicas à pandemia do COVID-19
A paisagem sonora como espaço de negociação e controvérsia
Todas as contribuições devem ser submetidas pelo portal da revista Cadernos de Arte e Antropologia e estar em acordo com as regras para submissão de artigos definidas no portal (http://cadernosaa.revues.org/). Gostaríamos de incentivar propostas que incluam elementos sonoros e/ou visuais, assim como "mixed media" (ver Políticas de Seção no site da revista). Questões sobre a adequação potencial de tópicos, expectativas editoriais ou quaisquer outras perguntas relacionadas a este número especial podem ser dirigidas à equipa editorial convidada diretamente através do endereço de e-mail isanchez@fcsh.unl.pt.
por Wynton kelly Stone Guess
A Guitarra de Coimbra (Soraia Simões, 2019) por Sérgio Dias Branco
Capa de Horses, de Patti Smith (Robert Mapplethorpe) por Rui Almeida